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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

As festas das abadessas

Mulher do Porto, 1830


Alberto Pimentel, compondo o diálogo fictício entre o poeta Soares de Passos e uma personagem de “O Porto Por Fora e por Dentro” (D. Gastão, morgado de Lamego), escreve: “E à hora em que tu, na tua casa da Praça Nova, estiveres meditando uma das tuas mais tristes e melodiosas composições, estarei eu, a pequena distância, trepando por uma escada de corda ao muro do mosteiro de S. Bento, e iminente aos braços de Clarinha, que me espera emboscada na cerca. 
O que eu quero é familiarizar-me com o teatro das operações, internar-me no convento, passar alguns dias na cela de Clarinha alimentado a doce de amêndoa, porque depois, na noite em que Clarinha imaginar que eu desci pelo muro da cerca, enganar-me-ei no caminho, e, para não ser surpreendido por ninguém, pernoitarei na cela de Palmira. 
E tu, tu, meu António Augusto, como conheces o escândalo, escreverás em formosos versos uma bela ode intitulada "A Profanação do Mosteiro."

Soares de Passos não terá escrito tal ode, mas muitos dos seus inúmeros contemporâneos que se dedicavam aos «versos» não faltavam às festas de abadessado, versejando à abadessa, às freiras, às criadas e a tudo o que cativasse a inspiração do momento. 

Nessas festas com que, de três em três anos, se festejava a eleição de nova abadessa (tradição que já vinha do séc. XVIII), lá estavam os poetas, conhecidos ou desconhecidos, numa lista enorme e sempre incompleta onde figuraram também Camilo, Guerra Junqueiro, Faustino Xavier de Novaes, Guilherme Braga e Alberto Pimentel [...]
 
(continua no livro)

MARINA TAVARES DIAS
e MÁRIO MORAIS MARQUES 
in
PORTO DESAPARECIDO 
(2002)

Entrada para o Convento de Monchique (colecção Villa-Nova)


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